Agentes da Polícia Federal e do Ministério Público Federal estão nas ruas de São Paulo para cumprir quatro mandados de prisão contra doleiros e outros de busca e apreensão em mais uma fase da "Operação Câmbio, Desligo", um desdobramento da Lava Jato no Rio de Janeiro.
Os mandados foram expedidos pelo juiz Marcelo Bretas da 7ª Vara Federal Criminal do RJ. Nessa fase, a polícia apura um esquema de evasão de divisas, lavagem de dinheiro e corrupção, chefiado pelo ex-governador Sérgio Cabral.
Os alvos foram identificados dentro do esquema de Sérgio Cabral, a partir das delações premiadas Vinicius Clarer (Juca), e Cláudio Fernando Barboza, o Tony.
Ainda segundo o pedido de prisão, através das operações Calicute, Eficiência, e Hic et Ubique, juntamente com o acordo de colaboração premiada celebrado com Juca e Tony, os investigadores descobriram a atuação de outras pessoas na organização criminosa de lavagem de dinheiro e evasão de divisas liderada por Cabral.
A operação "Câmbio, desligo" foi deflagrada em maio de 2018 e prendeu 30 pessoas em quatro estados. Os alvos eram doleiros suspeitos de movimentarem R$ 1,6 bilhão em 52 países.
A logística dessa operação, segundo o MPF, envolvia a custódia de valores nas transportadoras (Trans-Expert), bem como o aluguel de salas comerciais equipadas com cofre, alarme, portas blindadas e controle de acesso, a fim de armazenar os recursos utilizados de tais operações ilícitas.
Os dois doleiros alvos desta nova fase, ainda de acordo com o pedido de prisão, atuavam junto aos colaboradores Vinicius Clarer e Cláudio Fernando Barbosa.
Doleiro desviou R$37 milhões e responde por improbidade administrativa
Em sua delação, Cláudio apontou que Sérgio Reinas realizou operações no valor de R$ 37 milhões entre 2011 e 2014. Sérgio era conhecido como doleiro e sócio de Lúcio Funaro, mas, após um desentendimento, começou a atuar diretamente com Vinicius e Cláudio.
O Ministério Público Federal acrescenta no pedido de prisão que Sérgio Reinas responde por uma ação de improbidade administrativa e também a um procedimento instaurado na Comissão de Valores Mobiliários, em razão de irregularidades em operações envolvendo os fundos da Prece, entidade fechada de previdência complementar (EFPC), criada pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae).
Os investigadores afirmam que Sérgio atuava na compra e venda de dólares, e também na utilização de sua conta de giro para a troca de cheques e pagamento de boletos fornecidos pelos colaboradores.
Já o outro alvo, Nissim Chreim, movimentou 22 milhões de dólares entre 2011 e 2016, de acordo com as delações premiadas. Ele e sua mulher, Thânia Chreim, são beneficiários de algumas offshores no Panamá, Suíça e Ilhas Virgens. Nissim nunca teria declarado as empresas à Receita Federal.
Mandados de prisão preventiva:
Doleiro: Sérgio Guaraciaba Martins Reinas, conhecido como "Roma" e "Mister"
Doleiro: Nissim Chreim, o "Miojo"
Thânia Nazli Battat Chreim
Mandado de prisão temporária:
Jonathan Chahoud Chreim
Os sete mandados de busca e apreensão estão sendo cumpridos em endereços comerciais e residenciais dos alvos citados acima.
Operação 'Câmbio, desligo'
Em junho do ano passado, o MPF denunciou mais 60 pessoas, incluindo o ex-governador Sérgio Cabral, que eram alvos da operação Câmbio, desligo.
Os suspeitos integravam um sistema chamado Bank Drop, no qual doleiros remetem recursos ao exterior através de uma ação conhecida como “dólar-cabo”.
Trata-se de um câmbio que envolve depósitos em contas em diferentes países, mas o dinheiro não é rastreável pelo Banco Central: doleiros recebem no Brasil e compensam em contas no exterior. Por não haver remessa, muito menos registro, o montante escapa das autoridades e dos impostos.
Os procuradores sustentam que a rede de doleiros operava lavando dinheiro para diversas organizações criminosas, inclusive a que o ex-governador foi condenado por liderar.
O "vultuoso" volume de recursos desviados, nas palavras dos investigadores, envolveu dezenas de doleiros espalhados pelos principais centros comerciais do país. A operação só foi possível porque dois deles, Vinicius Clarer (Juca), e Cláudio Fernando Barboza, o Tony, fizeram delações premiadas.