O presidente Jair Bolsonaro e o presidente do Chile, Sebastián Piñera, em uma reunião neste sábado (23) em Santiago reafirmaram o comprometimento dos dois países com o restabelecimento da democracia na Venezuela e assinaram compromissos na área comercial.
O Chile foi o primeiro país da América do Sul para o qual o presidente Bolsonaro viajou após tomar posse. Geralmente, presidente brasileiros visitam primeiro a Argentina.
O encontro com Piñera, num primeiro momento, foi reservado somente aos dois chefes de Estado. Depois, houve também a participação de ministros. Em seguida os dois presidentes deram uma declaração à imprensa.
Em documento sobre a reunião, assinado por Bolsonaro e Piñera, eles disseram que a solução na Venezuela passa por eleições presidenciais "livres e justas".
[Os presidentes acordaram sobre] O compromisso de contribuir para restaurar a democracia na Venezuela, que requer a realização de eleições presidenciais livres e justas, conforme os padrões internacionais e sob observação internacional independente; a liberação de todos os presos políticos; e o fim da sistemática violação dos direitos humanos naquele país", diz um trecho da declaração.
Compromissos comerciais
Entre os compromissos assinados por Brasil e Chile estão:
Compromisso com a construção de corredor que irá unir o Centro-Oeste do Brasil com os portos do Norte do Chile;
compromisso com impulsionar o aperfeiçoamento da integração econômica e estabelecer uma área de livre comércio entre o Mercosul e os países membros da Aliança do Pacífico, da qual o Chile faz parte;
apoio chileno à candidatura brasileira para ingresso na Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Discursos
Bolsonaro ressaltou que o Brasil é o principal destino estrangeiro de investimentos chilenos. Ele ainda agradeceu Piñera pelo Chile ter assumido a organização da conferência do clima COP 25, após o governo Bolsonaro ter decidido que o Brasil não sediaria o evento, como estava previsto inicialmente. A COP 25 será realizada em novembro.
"Quero agradecer a Vossa Excelência por abraçar a COP 25. O Brasil não estará fora dela", disse Bolsonaro. "Estaremos aqui na COP 25. Tenho certeza que todos ganharão com a participação do Brasil, completou.
Piñera afirmou que ele e Bolsonaro acordaram que vão enviar “nos próximos dias e de forma simultânea” o acordo de livre comércio entre Brasil e Chile para ser votado pelos congressos dos dois países. O acordo foi assinado em novembro do ano passado.
A proposta dos presidentes é aprovar o acordo ainda em 2019.
“Vai favorecer ambas as economias, mas principalmente as pequenas e médias empresas que vão poder participar de licitações públicas e competir em condições de igualdade”, disse Piñera.
Reunião com empresários
Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro disse, em um café da manhã com empresários chilenos, que "infelizmente" no Brasil há algumas pessoas que "não querem largar a velha política".
Bolsonaro fez um discurso no evento, organizado pela Sociedade Fabril do Chile. Ele está no terceiro dia de viagem oficial ao país sul-americano.
"Alguns, não são todos, não querem largar a velha politica, que infelizmente nos colocou nesta situação bastante crítica em que nos encontramos", disse o presidente.
Ele disse ainda que, mesmo estando "calado" e fora do Brasil, ocorrem atritos no país.
Nos últimos dias, o governo vem sendo alvo de reclamações de parlamentares, que alegam falta de diálogo do Palácio do Planalto com o Congresso. Os políticos também cobram o preenchimento de cargos de terceiro escalão, geralmente ocupados por pessoas indicadas por aliados.
Além disso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou que o governo precisa se envolver mais nas negociações para aprovação da reforma da Previdência.
Neste sábado, em reunião do PPS em Brasília, Maia disse que o governo não pode "terceirizar a articulação" política. A declaração de Bolsonaro no café da manhã ocorreu antes da de Maia em Brasília.
Novo organismo internacional
Nesta sexta-feira (22), Bolsonaro e presidentes de outros países sul-americanos, como Argentina, Chile, Colômbia, Paraguai e Peru, assinaram a Declaração de Santiago. O documento tem uma proposta para a criação do Prosul, fórum de desenvolvimento e integração regional, que deve substituir a União das Nações Sul-Americanos (Unasul).
Protesto
Este sábado também foi marcado por novo protesto contra Bolsonaro em Santiago. Dezenas de pessoas levaram faixas para se manifestar diante do Palácio La Moneda durante o encontro com o mandatário chileno.
As faixas mostravam mensagens de protesto em favor de minorias, em defesa do meio ambiente e com questionamentos a respeito da morte de Marielle Franco. As pessoas se concentraram diante de um paredão policial que se posicionou na frente do palácio.