O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, ficou em 0,75% em março, acima dos 0,43% de fevereiro, pressionado principalmente pela alta dos preços de alimentos e combustíveis, segundo divulgou nesta quarta-feira (10) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Trata-se da 4ª alta seguida e maior taxa para um mês de março desde março de 2015, quando o índice foi de 1,32%. Nos três primeiros meses de 2019, a inflação se situou em 1,51%.
Com o resultado de março, o índice acumulado em 12 meses avançou para 4,58%, acima da meta central de inflação do governo para 2019, que é de 4,25%, e maior índice para o período de 12 meses desde fevereiro de 2017 (4,76%).
É a primeira desde outubro do ano passado que a inflação no acumulado em 12 meses supera o centro da meta oficial.
Outro item que sofreu alta significativa em março foi a passagem aérea, cuja variação foi de 7,29%. O pesquisador ponderou, no entanto, que essa alta veio após uma queda de 16,65% observada em fevereiro.
Na alimentação, os principais vilões da inflação em março foram o tomate, cujos preços médios tiveram alta de 31,84% no mês na comparação com fevereiro, seguido da batata-inglesa, com alta de 21,11%, e dos feijões carioca e preto, que aumentaram, respectivamente, em 12,93% e 12,55%. Já as frutas subiram 4,26%.
As despesas relacionadas ao carnaval também exerceram influência sobre a inflação em março, ainda que com menor impacto. Gonçalves destacou dois itens cujas altas podem ser atribuídas ao feriado: hotéis (1,81%) e excursões (1,48%).
Feijão-carioca tem alta de 135% em 12 meses
O preço do feijão-carioca, que tem relevância na mesa dos brasileiros e pesa 0,28 p.p. sobre o IPCA, acumula no primeiro trimestre deste ano uma alta de 105%. Em 12 meses, a alta chega a 135,04%.
Gonçalves explicou que a terceira safra do feijão-carioca, colhida no final do ano, tinha estoque baixo, já que a produção foi menor que o esperado pelos agricultores. Já a primeira safra deste ano sofreu prejuízos devido a questões climáticas.
“O feijão-carioca é um produto que só tem no Brasil, então a gente não importa ele de fora. Esses fatores combinados levaram a uma redução na oferta dele, o que provoca a alta do preço”, disse o pesquisador.
No acumulado do ano (1,51%), o feijão-carioca e os cursos regulares foram os que mais exerceram pressão na alta do IPCA. Ambos tiveram impacto de 0,16 p.p. no indicador. Na sequência, estão ônibus urbano (0,14 p.p.), batata-inglesa e frutas (0,12 p.p. cada) e planos de saúde (0,10 p.p.). “Esses seis itens responderam por 52,58% do índice acumulado neste primeiro trimestre”, reforçou Gonçalves.
O IPCA mede a inflação para as famílias com rendimentos mensais entre um e 40 salários mínimos, que vivem em dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande e de Brasília.
Veja a inflação de março por grupos pesquisados e o impacto de cada um no índice geral:
Alimentação e Bebidas: 1,37% (0,34 ponto percentual)
Habitação: 0,25% (0,04 p.p.)
Artigos de Residência: 0,27% (0,01 p.p.)
Vestuário: 0,45% (0,02)
Transportes: 1,44% (0,26 p.p.)
Saúde e Cuidados Pessoais: 0,42% (0,05 p.p.)
Despesas Pessoais: 0,16% (0,02 p.p.)
Educação: 0,32% (0,02 p.p.)
Comunicação: -0,22 (-0,01 p.p.)
Perspectivas para a inflação
A aceleração da inflação em março não chega a preocupar, mas torna mais difícil, pelo menos por enquanto, uma redução adicional da taxa juros pelo Banco Central.
Segundo o Blog do João Borges, antes da divulgação do indicador de março, talvez a redução do juro dependesse apenas de uma sinalização mais confiável do Congresso de que a reforma da Previdência será em algum momento aprovada. Agora, não mais.
O gerente do IBGE ponderou que ainda é cedo para avaliar como será o comportamento deste indicador nos próximos nove meses. Segundo ele, somente a partir do indicador de julho será possível ter uma "noção melhor de como esse indicador vai se comportar”.
O pesquisador destacou, ainda, que há expectativa da oferta de alimentos, prejudicada pelos eventos climáticos desfavoráveis no primeiro trimestre, voltar a crescer, reajustando os preços.
Para a composição do indicador em abril, Gonçalves apontou alguns reajustes já anunciados que deverão exercer pressão sobre a inflação. O principal deles seria a alta de 4,33% em medicamentos, aplicada em todo o país.
No mês passado, o Banco Central avaliou que a inflação acumulada em 12 meses deve atingir um pico em torno de abril ou maio, para depois recuar para patamar abaixo do centro da meta deste ano.
Os analistas das instituições financeiras projetam uma inflação abaixo do centro da meta, com uma taxa de 3,90% em 2019, indo a 4% em 2020, segundo a última pesquisa "Focus" do Banco Central.
A meta central de inflação deste ano é de 4,25%, e o intervalo de tolerância do sistema de metas varia de 2,75% a 5,75%. A meta é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic), estacionada há quase um ano na mínima histórica de 6,5%.
Inflação por capitais
Na análise por capitais, Goiânia (0,12%) apresentou a menor inflação em março. O maior índice ficou com o município de São Luís (1,36%).
Veja a inflação de março por região:
São Luís: 1,36%
Aracaju: 1,21%
Porto Alegre: 1,18%
Fortaleza: 1,04%
Brasília: 0,93%
Rio de Janeiro: 0,83%
Curitiba: 0,83%
Recife: 0,82%
Rio Branco: 0,78%
São Paulo: 0,78%
Salvador: 0,76%
Campo Grande: 0,70%
Belém: 0,49%
Vitória: 0,39%
Belo Horizonte: 0,29%
Goiânia: 0,12%
INPC em março foi de 0,77%
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado como referência para os reajustes salariais, ficou em 0,77% em março, acima dos 0,54% de janeiro. O acumulado do ano está em 1,68% e o dos últimos doze meses foi para 4,67%, contra 3,94% nos 12 meses imediatamente anteriores.