Duas testemunhas reconheceram José Bezerra de Lira, conhecido como Zé do Rolo, como o construtor dos prédios que desabaram na Muzema. A informação foi obtida com exclusividade pela TV Globo.
Na manhã desta quinta-feira (18), o corpo de uma mulher foi encontrado nos escombros. Com isso, chegou a 20 o número de mortos. Três pessoas continuam desaparecidas. Uma força-tarefa da Polícia Civil foi montada para investigar o caso.
O apelido de Zé do Rolo, que mora na Muzema, teria sido dado em razão de negócios informais em que Lira atua. Além das investigações da polícia, há outros indícios de que ele é proprietário dos imóveis: o depoimentos de moradores e a apreensão de documentos e mídia na comunidade, como informou o RJ2 na quarta-feira (17).
A equipe de reportagem ouviu dez moradores da Muzema. Pedindo anonimato por medo de represálias, todos afirmaram que Zé do Rolo é o proprietário dos prédios.
Outro indício é a operação Intocáveis, realizada em janeiro deste ano pelo Ministério Público estadual do Rio de Janeiro. Documentos e mídias apreendidas na ocasião apontam Zé do Rolo como principal suspeito de ser o dono dos prédios que caíram.
A reportagem tentou contato com ele por telefone, mas não teve resposta. O aplicativo de mensagens de celular dele aponta que o último acesso ocorreu na sexta-feira (16), horas depois da tragédia.
Corretores
Outros dois nomes de corretores estão na mira das investigações para serem ouvidos. Nos anúncios encontrados em um dos apartamentos que desabou, estão os telefones de Jucileia Santos e Renato Ribeiro. Ambos foram procurados pela reportagem, mas não atenderam aos telefonemas.
A reportagem esteve em dois endereços ligados a Renato, na Zona Oeste, mas ninguém foi encontrado. Já foi definido que 16 prédios serão implodidos pela prefeitura após as buscas serem encerradas.
Documentos obtidos em cartórios mostram que, em 2002, um terreno no mesmo endereço do condomínio foi herdado pelos filhos de dele – Antônio Henrique Abrahão e Maria José Abrahão Aminger. Em 2009, este imóvel foi penhorado por uma dívida de IPTU com a Prefeitura do Rio.
Em depoimento à Polícia Civil, o presidente da Associação de Moradores da Muzema, Marcelo Diniz Anastácio, afirmou que, a partir de 2011, construtores começaram a oferecer apartamentos aos donos de terrenos da comunidade, em troca da permissão para erguer prédios. Ele contou ainda que ninguém possui RGI, o Registro Geral de Imóveis, no local, pois todos os lotes são fruto de posse.
Anastácio disse ainda que não conhece os construtores dos prédios que desabaram e que não sabe nada sobre a ação de milicianos na comunidade. Ele afirmou ainda desconhecer milicianos de Rio das Pedras denunciados e presos na operação Intocáveis, que ocorreu em janeiro deste ano.
Foram enterrados no início da tarde desta quinta mais duas vítimas do desabamento. Os irmãos Isac Fabrício Paes Leme, de 9 anos, e Pedro Lucas Paes Leme, de 7 anos, foram sepultados lado a lado, no mesmo horário, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, Zona Portuária do Rio.
Como homenagem, amigos vestiam uma camiseta com uma foto da família reunida.
A mãe dos garotos, Paloma, de 44 anos, e o irmão deles, Rafael, de 4 anos, seguem internados no Hospital Miguel Couto, na Gávea, Zona Sul. O pai, Raimundo Nonato do Nascimento, também morreu no desabamento, mas o enterro ainda não foi realizado.