A Polícia Civil fez a reconstituição da operação que deixou 13 mortos, no Morro do Fallet, no Catumbi, na região do Centro do Rio, há quase três meses. Na segunda-feira (29), as atenções ficaram voltadas para a casa onde nove suspeitos morreram. O local, que tinha ficado com as paredes crivadas de balas, foi reformado. Os investigadores já sabem que os policiais deram 94 disparos de fuzil na casa. E que dois destes policiais chegaram a atirar 40 vezes.
A reprodução simulada, que durou sete horas, pode ajudar a esclarecer se os mortos foram atingidos durante uma troca de tiros, como alegaram os PMs ou executados, depois de rendidos, como denunciam moradores.
Uma gravação revelou uma grande sequência de disparos e depois outras sequências com menor intensidade.
Os sete PMs que estavam na ação participaram da reconstituição da Delegacia de Homicídios, com apoio do Ministério Público e da Defensoria Pública do Estado. Eles prestaram declarações individualmente e os defensores públicos dizem que eles entraram em contradição.
A Defensoria afirma também que os PMs levaram todos os corpos para o hospital e, assim, alteraram a cena do crime. Diz ainda que os laudos da perícia criminal do Instituto Médico-Legal não continham o trajeto dos tiros, nem informações sobre lesões que podiam ser vistas a olho nu. Algumas cápsulas não foram colhidas no local. E as roupas dos que chegaram mortos ao hospital, foram jogadas fora, o que é uma prática incomum.
Os investigadores afirmam que os mortos tinham envolvimento com o tráfico. Mas precisam esclarecer se eles foram atingidos durante uma troca de tiros, como alegam os policiais militares ou executados depois de terem sido rendidos, como relatam moradores.
“É importante que seja feito com apuração responsável, que possa ser corrigido o que for possível ser corrigido. É importante que sejam respondidas as questões formuladas pela Defensoria, pelo Ministério Público. Numa situação onde 13 pessoas foram mortas, não é um fato típico, não pode ser considerado típico, é preciso que seja apurado, que seja respondido à sociedade”, disse o ouvidor-geral da Defensoria Pública Pedro Strozenberg.
O porta-voz da PM, coronel Mauro Fliess, disse que a Polícia Militar está colaborando com as investigações.
“A Polícia Militar, ela respeita todos os protocolos. Não pactuamos com nada equivocado, com nenhuma ação ilegal. Era uma tropa especial que estava atuando naquele local. Porém, insisto, era um local hostil, em que duas facções estavam em forte enfrentamento com vasto poderio bélico”, disse o coronel.
A Polícia Civil declarou que fez a reconstituição para esclarecer alguns pontos da investigação e que está em busca de novas provas.