A Justiça do Ceará manteve a prisão do médico e prefeito afastado de Uruburetama José Hilson Paiva, 70 anos, suspeito de abuso sexual contra pacientes e filmar os crimes. Ele passou por uma audiência de custódia, neste sábado (20), na Comarca de Itarema, município no interior do Ceará.
Ao sair da audiência de custódia, José Hilson Paiva declarou que os abusos sexuais registrados em vídeos feitos por ele mesmo durante consultas médicas eram relações em sua “maior parte consentidas”. O médico também pediu desculpas “ao país e ao mundo” e diz que “não sabe explicar” por que gravava os vídeos e cometia os atos.
A audiência de custódia não entrou no mérito dos crimes sexuais, mas a defesa de José Hilson pediu a prisão domiciliar alegando que ele tem problemas cardíacos e doença na próstata. A Justiça, porém, não aceitou a solicitação por ainda não haver anexado ao processo nenhum documento que comprove o estado de saúde do médico. A defesa do prefeito afastado afirmou também que entrará com pedido de habeas corpus na próxima semana pedindo a soltura dele.
O médico e prefeito afastado é suspeito de cometer crimes sexuais contra, pelo menos, 17 mulheres. Ele começou a ser ouvido pelo juiz da cidade de Cruz, neste sábado, por volta das 11h30, e deixou o local cerca de 12h15 em direção a Fortaleza, onde ficará detido na Delegacia de Capturas.
A reportagem apurou que Paiva saiu sob escolta da Delegacia de Capturas, em Fortaleza, ainda no início da manhã deste sábado (20) rumo ao interior do estado. O prefeito afastado da atual gestão de Uruburetama foi preso na tarde dessa sexta-feira (19), após se entregar às autoridades e se apresentar na sede da Superintendência da Polícia Civil do Ceará.
A prisão preventiva de José Hilson foi decretada nessa sexta-feira (19), pelo juiz José Cléber Moura do Nascimento. A medida foi considerada necessária para preservar provas e evitar a influência do prefeito nas investigações. O prefeito de Uruburetama é denunciado por abusos sexuais contra pacientes desde a década de 1980.
No domingo (14), o Fantástico exibiu trechos de vídeos com cenas de abusos sexuais e entrevistas com as vítimas. As imagens foram filmadas pelo próprio médico que, durante depoimento à Polícia Civil, teria contado que a prática de filmar pacientes no consultório se tornou um fetiche.
A delegada de Cruz, Joseanna Oliveira, afirmou que, conforme as investigações, "ás vezes ele deixava a câmera ligada e filmava a sala mesmo sem ter pacientes, era um hobby". O G1 teve acesso a 63 arquivos que mostram José Hilson atendendo pacientes em consultórios nas cidades de Uruburetama e Cruz. Profissionais da Associação Médica Brasileira assistiram ao conteúdo e avaliaram que se tratava "claramente" de estupro das pacientes.
Em depoimento à polícia na sexta-feira, o médico disse que os abusos sexuais de mulheres que atendia e as gravações que fazia dos atos se tornaram um "vício", segundo a Secretaria da Segurança Pública do Ceará (SSPDS).
"Ele fez registros não autorizados de pacientes, para se proteger de falsas denúncias de abuso, inicialmente com pacientes com que tinha alguma intimidade. Disse que se tornou vício e não conseguia mais parar de filmar. Nem a esposa dele tinha ciência", relatou Joseanna Oliveira, delegada do município de Cruz, onde o médico também fez vítimas.
Ainda segundo a delegada, José Hilson afirmou que a prática virou fetiche há décadas e que era um hobby fazer as gravações utilizando celulares e câmeras digitais. Ele ainda procurou tratamento.