Araraquara - 210 mil habitantes. A cidade do interior de São Paulo que virou manchete no Brasil todo.
Os acusados de hackeamento: Walter, Danilo e o casal Gustavo e Suelen - todos de Araraquara. Durante a semana, o "Fantástico" esteve lá, em vários endereços, atrás de pessoas que conhecem os quatro acusados de hackear algumas das maiores autoridades do país.
"Eu sinceramente não sabia, não tinha esse conhecimento assim. Que ele podia fazer algo tão grande assim", afirma uma jovem que conheceu Walter Delgatti Neto, de 30 anos, o Vermelho, principal suspeito dos hackeamentos.
"Eu só sabia de um carro que ele tinha, BMW, mas eu sabia que ele tinha um, uma vida boa, assim, porque ele mesmo relatava. E ele falava que era herança. Ele só começou a fazer faculdade, né?", diz. "De Direito."
Segundo amigos, Walter chegou a cursar um ano de Direito. A jovem ouvida pelo "Fantástico" confirma a ligação de Vermelho com os outros suspeitos.
"Ele não dava detalhes, ele só falava que eles se conheciam há muito tempo. O Gustavo, eu cheguei a ver ele uma vez pessoalmente", conta.
"Quando ele me vinha falar alguma coisa, ele falava: ah, eu sou bem 'fuçado'! Eu sabia que ele gostava de mexer com essas coisas de computador."
Walter chegou a morar com a avó em Araraquara.
Otília Delgatti, avó de Walter, diz que a polícia costuma aparecer em sua casa. "Vem ver se ele tá, ele não tá, eles vão embora, né? É assim."
Em 2015, a Delegacia da Mulher de Araraquara recebeu uma jovem de 17 anos, a namorada do irmão de Walter. Ela contou que foi dopada e estuprada pelo hacker.
Ela disse que Walter filmou a relação sexual e espalhou o vídeo para amigos dela. Depois a jovem mudou o depoimento, negou o estupro e o caso foi arquivado.
Antes do arquivamento, a polícia foi até o apartamento de Walter e acabou descobrindo outro crime.
A polícia apreendeu vários medicamentos controlados e receitas médicas e também uma carteirinha de estudante de Medicina da Universidade de São Paulo. Na época, Walter disse que usava a carteirinha pra pagar meia entrada no cinema e pra enganar meninas, dizendo que era estudante de medicina. Ele foi preso por documento falso e tráfico de substâncias.
Na garagem do prédio, os policiais encontraram uma BMW sem as rodas.
Walter foi preso novamente em 2015, quando tentou entrar sem pagar no parque Beto Carrero, em Santa Catarina, usando uma carteira falsa de delegado de polícia.
Nessa viagem, Walter estava com Gustavo Henrique Elias Santos e a namorada dele, Suelen Priscila de Oliveira - o casal que também é acusado de participar do hackeamento de autoridades.
No mês passado, Walter deu sinais de que estava preocupado com a polícia.
O episódio aconteceu em Araraquara e foi narrado por uma jovem que teve relações sexuais consentidas com ele, dentro de um Land Rover. Ela registrou um boletim de ocorrência dizendo que quando eles passavam de carro perto da rodoviária, Walter viu uma viatura de polícia. Ficou muito nervoso. Expulsou a jovem do carro. Ela não conseguiu nem pegar as chaves de casa.
47 dias depois, Walter Delgatti Neto foi preso pela Polícia Federal em um apartamento em Ribeirão Preto, alugado em nome de Danilo Cristiano Marques - o outro acusado de hackear telefones, que também está preso.
No depoimento à Polícia Federal, Danilo disse que não conhece nenhuma ocupação profissional que tenha sido exercida por Walter, ao longo dos anos. Falou que o amigo sempre teve confusões com a polícia e relatava ser vítima constante de extorsões.
Danilo contou aos policiais que Walter às vezes aparecia com carros luxuosos e que a ostentação de patrimônio atraía a atenção da polícia.
Afirmou que não sabe dizer como Walter conseguia dinheiro para pagar as extorsões nem para comprar os veículos.
Disse que emprestou o nome para Walter alugar o imóvel, em nome da amizade, sem receber nenhum pagamento ou vantagem por isso, que a internet do apartamento ficou em seu nome, Danilo, e que emprestou para Walter uma conta bancária. Pediu um cartão extra e só Walter movimentava essa conta.
Danilo confirmou que fez operações de câmbio, segundo ele, a pedido de Walter, que disse ter extrapolado o limite de compra de dólares.
Na investigação, a Polícia Federal já tinha encontrado operações financeiras suspeitas, feitas em 2016 por Walter e Danilo.
Eles compraram dólares e euros em casas de câmbio dos aeroportos de Natal e do Rio de Janeiro, em um total de R$ 90 mil.
Segundo a polícia, os dois teriam comentado que usariam o dinheiro para comprar armas.
"O perfil dessas pessoas é relacionado a estelionato bancário eletrônico", afirma o coordenador de Inteligência da Polícia Federal João Vianey Xavier Filho, durante coletiva de imprensa. "Cartões de crédito e débito, o que é muito comum. E a Polícia Federal já tem alguma expertise nesse tipo de investigação", completa.