COVID: RIO DE JANEIRO PODE SOFRER A SEGUNDA ONDA DESSA CONTAMINAÇÃO
Principais notícias do Dia
Publicado em 06/05/2020

Moradores do município do Rio estão aderindo menos ao isolamento social recomendado pelas autoridades como medida de prevenção ao novo coronavírus. Números da empresa de inteligência artificial Cyberlabs mostram que a cidade apresentou um isolamento de 74% na última segunda-feira, enquanto há 15 dias essa taxa era de 79%. Da última vez que esse patamar foi registrado, nos dias 11, 13 e 14 de abril, houve um aumento exponencial do número de infectados duas semanas depois, chegando a 763 novos casos em apenas 24 horas. As datas coincidem com o prazo médio de 14 dias indicado por especialistas e pelo Ministério da Saúde como o tempo de incubação do coronavírus após o contato.

O infectologista Edimilson Migowski, diretor de relações externas da UFRJ, aponta que os números podem indicar uma segunda leva de contaminação de Covid-19.

A doença tem se manifestado na primeira semana após o contato com o vírus. Porém, há sempre uma segunda onda de contaminação, quando os primeiros infectados transmitem o vírus para até duas ou três pessoas. As pessoas burlaram o isolamento, foram contaminadas e depois infectaram mais pessoas, inclusive parentes e amigos.

Migoswky ressalta que um novo pico da doença daqui a duas semanas pode ser ainda pior devido à saturação da rede de saúde:

É um dado preocupante. As pessoas burlaram o isolamento, foram contaminadas e depois infectaram mais pessoas, inclusive parentes e amigos. Hoje, 412 infectados esperam em filas de UTIs. Projeto que o Rio poderá ter até mil pessoas esperando por uma vaga. Uma variável, no entanto, é o uso obrigatório de máscaras, o que ajuda a conter o avanço da doença.

O bairro em que mais pessoas saíram de casa anteontem, entre os monitorados por meio de câmeras pela Cyberlabs, foi Botafogo, na Zona Sul, com 67%. Isso significa que foi registrada uma queda de 67% do número de pessoas nas ruas em relação a uma segunda-feira antes do início da quarentena. Na sequência, com 70% de redução, está Copacabana, segundo bairro em número de mortes pela Covid-19 (37). Ontem, a equipe do GLOBO flagrou filas em mercados e bancos no bairro, principalmente na Rua Barata Ribeiro e na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, o que criou aglomerações. Nas últimas semanas, a cidade vinha mantendo o índice de aglomeração em torno de 80%.

Na Zona Oeste, o comércio popular de Campo Grande também tinha muitas pessoas circulando. Ontem, o bairro passou Copacabana no registro de mortes, com 38 óbitos por coronavírus na capital. Nem as lojas fechadas afastaram a população, que seguiu nas ruas do bairro. Já no Centro do Rio, próximo ao Largo da Carioca, muitos comerciantes faziam atendimento na calçada, o que causou aglomerações.

A Cyberlabs vem trabalhando em parceria com o Centro de Operações Rio (COR), da prefeitura. A medição de aglomeração é feita com base nas imagens de 800 câmeras de videomonitoramento de entidades privadas e públicas, incluindo as 400 da governo municipal.

Multa e processo criminal

O governador do Rio, Wilson Witzel, afirmou nesta terça-feira que o estado levará para a delegacia e processará criminalmente pessoas que estiverem em aglomerações, em calçadões e áreas de lazer, e que fechará e multará estabelecimentos comerciais que descumprirem o decreto de quarentena.  O aumento no rigor se dá porque estudo do Gabinete de Segurança Institucional aponta que 60% da população do estado têm ignorado as normas e seguem indo para as ruas. Anteontem, a capital registrou uma das menores taxas de adesão ao isolamento social (74%).

Segundo o boletim divulgado ontem pela Secretaria estadual de Saúde, o Rio já registra 1.123 mortes desde o início da pandemia e 12.391 casos confirmados da Covid-19. Nas últimas 24 horas, foram 670 pessoas infectadas e 58 mortes. A capital continua sendo o epicentro no estado, com 713 mortes pelo coronavírus e 7.832 contaminados. Witzel anunciou o rigor na fiscalização da quarentena após uma reunião com representantes do Ministério Público (MP-RJ) e da Defensoria Pública do Rio.

Estamos fazendo isso para evitar que tenhamos mais pessoas indo para hospitais públicos e privados, que estão no seu limite de atenção neste momento, disse o governador.

Estudo sobre lockdown

Fontes do Palácio Guanabara contaram que os valores das multas ainda serão definidos e devem ser publicados no Diário Oficial apenas na semana que vem. O Ministério Público, no entanto, acredita que as medidas devem ser mais severas. O órgão pediu ao governo do estado um estudo sobre a possível adoção de lockdown, afirmando haver “a necessidade de recrudescimento e ampliação das medidas de isolamento social”.

Witzel afirmou na semana passada que não cogitava tomar essa decisão, mas admitiu anteontem, em entrevista à TV Cultura, que um fechamento total pode vir a ser estabelecido pelo Poder Judiciário, a exemplo do que aconteceu no Maranhão.A promotoria já enviou ao governador do Rio um documento recomendando que, num prazo de 72 horas, seja feito um estudo sobre a viabilidade de ockdown.

Segundo o texto, antecipado pela coluna de Guilherme Amado, da revista Época, a análise deve ser embasada em “evidências científicas e em análises sobre as informações estratégicas em saúde, vigilância sanitária, mobilidade urbana, segurança pública e assistência social”. Deve ser feita ainda uma estimativa de quantas “vidas serão poupadas” com um eventual lockdown.O MP-RJ alega que “os países que implementaram (o fechamento total) conseguiram sair mais rápido do momento crítico”, mas ressaltou que a medida traz “alto custo econômico”.

 

Comentários