CRISE HÍDRICA ATUAL DEVE IMPACTAR AINDA A INFLAÇÃO, RACIONAMENTO ATRAPALHOU RETOMADA DA ECONOMIA EM 2021
Principais notícias do Dia
Publicado em 29/06/2021

A principal crise hídrica do país em mais de 90 anos desperta um antigo fantasma na mente dos brasileiros: o racionamento de energia do início dos anos 2000.

Para dar ares mais fortes à lembrança, o governo de Jair Bolsonaro, inclusive, edita uma Medida Provisória que cria diretrizes de intervenção para que seja possível operacionalizar um plano de cortes de energia para economizar os recursos. O texto ainda não saiu do Ministério de Minas e Energia e o órgão informou que não trabalha com planos de racionamento.

A MP, diz o governo, visa a "fortalecer a governança do processo decisório, possibilitando maior agilidade, segurança jurídica e total respeito às competências de todas as instâncias".

Há pouco mais de 20 anos, em maio de 2001, o país iniciava um programa de metas de redução de consumo de energia. A gravidade da seca nos reservatórios e a falta de investimento em geração e transmissão de energia causaram, juntas, uma severa crise de oferta de eletricidade.

À época, documentos mostraram que o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) sabia que havia risco de falta de energia, mas a equipe diz ter sido surpreendida pelo estágio avançado da situação. Sem capacidade de manejo, foi necessário reduzir compulsoriamente o consumo.

Em suma, o brasileiro foi obrigado a reduzir seu uso de eletricidade em 20%, sob risco de sanção na conta de luz e cortes de energia. Quem economizasse além da meta tinha descontos.

Freio na recuperação

À época do racionamento, o Brasil acabava de sair da crise cambial de 1999. Foi o momento em que o país abandonou a regulação do câmbio e deixou o real flutuar livremente em relação ao dólar.

O controle de câmbio havia sido introduzido como parte do Plano Real para resolver a hiperinflação do início dos anos 1990. No fim da década, o câmbio fixo havia dado lugar às "bandas cambiais", em que a rédea era mais solta, mas ainda mantinha a interferência na valorização do real em intervalos de cotação.

A ação no câmbio perdurou por anos e havia deixado um desequilíbrio grande na balança comercial e necessidade de juros mais altos, o que passou a prejudicar o crescimento e a formação de empregos.

Em 1999, após a reeleição de FHC, as reservas internacionais estavam esvaziadas e a dívida pública aumentava pela necessidade de aportes para manejar a cotação do real. O governo foi obrigado a mudar o regime para o câmbio flutuante.

Depois da liberação, os juros caíram e a balança comercial se beneficiou, mas houve impacto forte na inflação e no endividamento de empresas que contrataram empréstimos em dólar. Ainda assim, a retomada da economia acontecia por meio de empresas exportadoras, que se beneficiaram de um dólar mais alto, e do aquecimento da indústria.

Mas a retomada se perdeu justamente quando o racionamento entrou em questão. Sempre que há falta de oferta de energia, a indústria é obrigada a paralisar a produção e, eventualmente, os empresários precisam também repassar o custo extra ao restante da cadeia. Como efeitos secundários, os setores de comércio e serviços aumentam os preços ou diminuem as margens de lucro e investimentos.

A ondulação dos resultados foi evidente. Afetado pela crise cambial, o PIB do Brasil teve alta de 0,5% em 1999. No ano seguinte, subiu 4,4%. Em 2001, ano do racionamento, o aumento foi de apenas 1,4%, marcado por três trimestres de queda.

Comentários