VIÚVA DE MILICIANO SE CASA COM EMPRESÁRIO QUE PATROCINOU TIMES E DEVIA DINHEIRO A ELE
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Publicado em 08/07/2021

Oito meses após a morte do ex-capitão do Bope, Adriano Magalhães de Nóbrega, Júlia Emília Mello Lotufo, viúva do miliciano, casou-se novamente. Depois de viver perigosamente com o paramilitar, inclusive tendo-o acompanhado durante sua fuga na Bahia, Júlia escolheu como novo companheiro o empresário Eduardo Vinícius Giraldes Silva. Por trás do casamento, em regime de comunhão total de bens, investigadores da Polícia Federal acreditam que exista algum tipo de negócio ilícito entre o empresário e o ex-dono da milícia de Rio das Pedras e da Muzema, na Zona Oeste do Rio. Como viúva, Júlia teria ficado com a herança proveniente do crime. 

De acordo com relatório de Inteligência sigiloso da Polícia Federal, ao qual a reportagem, teve acesso, Giraldes devia dinheiro a Adriano, que mantinha em seu ramo de negócios ilegais um esquema de agiotagem.  O documento da Polícia Federal informa que o empresário contraiu o empréstimo com o miliciano em agosto de 2018. Giraldes e Adriano teriam se aproximado, segundo os analistas federais, por intermédio de um coronel da Polícia Militar da ativa, que também era cliente do ex-capitão da mesma corporação.

Novo marido foi condenado por associação criminosa

O casamento com Giraldes veio à tona no pedido da defesa de Júlia para que a prisão dela fosse revogada. Os advogados incluíram a declaração da união estável do casal aos autos. Além de apontar os negócios com Adriano, o relatório de Inteligência da PF informa que Giraldes foi condenado a oito anos e três meses de prisão por associação criminosa, falsificação e uso de documento particular, furto mediante fraude e furto qualificado, em primeira instância. O empresário foi alvo na Operação Nômade II, deflagrada em 17 de janeiro de 2014, por integrar uma quadrilha  que falsificava cartões de crédito. Seus apelidos, segundo os analistas federais, são Pisca e Bebezão. A defesa recorreu da decisão no STJ.

Apesar da condenação, Giraldes virou empresário, dizendo ser o dono do Azeite Royal. Desde 2018, ele investiu fortemente na publicidade do produto importado, patrocinando os quatro grandes clubes do futebol carioca e até um lutador de MMA. Em 14 de janeiro do ano passado, O GLOBO publicou reportagem citando sobre a estranha jogada de marketing sobre o azeite que era encontrado em apenas um supermercado.

Também em 2020, Giraldes esteve presente no mundo do samba, usando o Azeite Royal como patrocinador e colocando a propaganda do produto em alguns setores, a exemplo do que fez no Maracanã em jogos clássicos. Numa entrevista que deu à “TV Mais Carnaval”, no dia do desfile das campeãs do ano passado, o presidente da Mocidade Independente de Padre Miguel, Flávio Santos, anunciou que o enredo para 2021, seria sobre azeite. Por conta da pandemia, a ideia foi adiada. O documento da PF traz que o empresário tinha vínculos com o carnaval e, de certa forma, com o contraventor Rogério Andrade, patrono da Mocidade.

Na verdade, segundo processo em andamento no Tribunal Regional Federal da 2ª Região, a empresa Lecargo Comércio Importação e Exportação Eireli, também pertencente ao empresário, sofreu uma execução fiscal. Durante as investigações, descobriu-se que Giraldes estaria por trás de um grupo econômico formado por outras duas empresas, a ME RJ Importação e Distribuição Eireli e a Royal Green Comércio Importação e Exportação. Esta última, responsável pela importação do azeite. Enquanto as outras empresas se mantinham lucrativas, os débitos tributários se concentravam na Lecargo, apesar de a gestão ser única.

Por causa disso, o Ministério Público Federal denunciou Giraldes e outros integrantes do bando por lavagem de dinheiro e sonegação fiscal. Segundo a denúncia, o esquema adotado pelo empresário era o de se utilizar de interpostos, familiar e empregado, para ocultar dos registros públicos o fato de ser o gestor. Ele não aparece no quadro social das empresas, mas se mantém à frente com plenos poderes para movimentação das contas bancárias delas. A ME RJ Importação, por exemplo, criada em 2016, tinha a ex-mulher de Giraldes, Nataly Diz Ros, na titularidade. Três anos depois, um empregado do casal assume a empresa no quadro societário e Giraldes entra como administrador. O juiz federal da 9ª Vara Federal de Execução Fiscal, Vladimir Santos Vitovsky, em 30 de junho do ano passado, entendeu que houve uma tentativa de blindagem da Lecargo e determinou que as demais empresas entrassem no polo passivo da execução. Ele decidiu ainda pelo bloqueio das contas das três empresas.

Com a morte do marido, coube à viúva cuidar do espólio de atividades ilícitas do ex-capitão. A informação consta no processo da 1ª Vara Criminal Especializada da Capital, no qual Júlia responde por organização criminosa e lavagem de dinheiro. Na denúncia do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MPRJ), consta uma planilha contábil, extraída a partir da quebra de dados telemáticos de Júlia, que revela "vultuosos valores sobre despesas e créditos a receber" (sic), totalizando uma movimentação de R$ 1.845.111, 43, só no mês de maio de 2019. 

O Gaeco sustenta na denúncia que a contabilidade seria uma evidência de que a viúva se responsabilizou pela gestão financeira, ainda mais porque o registro na folha de cálculo foi feito três meses após a morte de Adriano. A planilha apareceu numa conversa por aplicativo de mensagem entre ela e o ex-marido, o policial militar Rodrigo Bittencourt, que segundo os promotores, também faz parte da organização criminosa. Além da foto da tabela, ela ainda comenta com o ex-marido: “To batendo aqui já olho direito” (sic). Para os investigadores, “batendo” se refere ao fato de ela estar conferindo as contas. Antes de ser companheira de Adriano, Júlia teve um relacionamento com Rodrigo, com quem teve uma filha. Ele teve a prisão preventiva decretada e se encontra preso.

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