Surfistas buscando a onda perfeita, condições climáticas favoráveis, um celular inusitado e o sinal de telefone no meio do mar. Esses foram alguns dos elementos de sorte que, juntos, ajudaram a salvar a vida de Nelson Nedy Ribeiro.
O jardineiro que ficou literalmente ilhado por cinco dias depois de ser arrastado pelo mar em Grumari, na Zona Oeste do Rio, contará essa história pelo resto da vida.
O isolamento dele ocorreu na Ilha das Palmas, um pedaço rochoso inabitado a um quilômetro e meio da Praia de Grumari. Para sobreviver no local, o jardineiro comeu um limão com casca e pedaços de carvão, além de beber água da chuva.
Durante o período, Nelson teve medo de morrer e ficou desesperado para que alguém conseguisse vê-lo e ajudá-lo a deixar a ilha.
Já sem forças para seguir lutando pela vida naquele lugar hostil, Nelson só pôde ser resgatado após a chegada inesperada de cinco surfistas que buscavam a onda perfeita. Fora isso, provavelmente, o jardineiro não teria passado o Dia dos Pais com a filha.
Ciclone no Rio
Talvez essa história nem mesmo tivesse acontecido se o Rio de Janeiro não tivesse enfrentado uma frente fria na última semana, quando os especialistas indicaram a chegada de um sistema de baixa pressão que poderia virar um ciclone extratropical com ventos de até 80 km/h em todo o litoral fluminense.
Vale lembrar que Nelson só foi parar isolado na Ilha das Palmas porque no dia 8 de agosto decidiu ir até o Mirante do Roncador, na Praia de Grumari, para assistir a ressaca provocada pelos fortes ventos.
As mesmas condições climáticas que provocaram a queda de Nelson no mar naquela segunda também foram responsáveis, indiretamente, pelo salvamento do jardineiro.
Onda rara atraiu surfistas
Foi por conta da mudança no clima, que um grupo de amigos surfistas combinou de cair no mar no último sábado (13). O objetivo deles era encontrar a onda perfeita.
"Estava passando um ciclone, muito atípico, trazendo muita ondulação para o Rio de Janeiro . E a gente sabia que por volta de terça ou quarta-feira ele ia bater por aqui", explicou o professor de educação física e surfista Marcelo Pedro, um dos responsáveis pelo resgate do Nelson.
"Teve muita onda durante a semana inteira, muito vento, e a gente sabia que depois ia dar uma acalmada. A gente se falou na sexta e achou que ia dar onda na Ilha de Palmas. Lá é uma onda difícil, rara, não é fácil de dar ela, mas a gente vinha monitorando esse pico há muitos anos", completou Marcelo.
O grupo de surfistas que se identifica como "caçadores de emoções" não poderia imaginar que ao encontrar uma das ondas mais raras do litoral brasileiro também estaria participando de um resgate histórico.
"O milagre só aconteceu porque Deus colocou essa onda funcionando lá naquele dia", comentou o surfista Waldyr Dordrom.
Sinal de celular é incerto na região
Outro fator inusitado que permitiu o salvamento de Nelson naquela ilha foi a possibilidade de um dos cinco amigos estar com um telefone no meio do mar. E não bastava ter o aparelho naquela condição, ele precisava ter sinal para acionar o resgate.
"A gente costuma levar rádio. Mas nesse dia eu pensei em levar o celular, mas nem sabia se ia pegar", contou Rodrigo Ribeiro, gerente de mercado e surfista.
"Lá não pega sinal. Eu levei ele em um compartimento do jet-ski, mas nem achei que fosse precisar. Quando eu cheguei, o celular foi super útil porque foi do telefone que eu consegui chamar o helicóptero. Caso contrário, a gente podia correr o risco de um salvamento mal-sucedido", explicou Rodrigo.
Após a ligação, uma equipe do Corpo de Bombeiros chegou ao local. Primeiro, os militares foram de jet-ski e confirmaram a presença de Nelson na ilha havia cinco dias. Um dos bombeiros ficou no veículo, enquanto o outro subiu na ilha para prestar os primeiros atendimentos.
Em seguida, chegou o helicóptero da corporação, que rapidamente realizou o resgate do jardineiro. Nelson tinha ferimentos leves e arranhões, e foi levado de helicóptero para o Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, onde recebeu atendimento médico.