SEM PREVISÃO PARA O FIM DA COVID O DESAFIO É INTERIORIZAÇÃO NO BRASIL
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Publicado em 19/07/2020

Uma vacina para combater o coronavírus deve ficar pronta em 2021 no Brasil e ser incorporada ao Sistema Único de Saúde, o SUS, mas o combate ao avanço da Covid-19 demanda investimento do governo e da iniciativa privada em estrutura e atendimento. É o que acreditam as duas especialistas que participaram da live "Agora é assim?", do G1, nesta sexta-feira (17). Assista ao papo na íntegra no vídeo acima.

Semanalmente, repórteres do G1 debatem com convidados, ao vivo, o legado que a pandemia deve deixar. São discutidas as mudanças no dia a dia, as novas formas de trabalho e lazer, a transformação na nossa relação com a tecnologia, entre outros temas. A live vai ao ar todas as sextas.

Dessa vez, a conversa foi sobre o legado que o esforço para conter o coronavírus vai deixar para o desenvolvimento de pesquisas científicas e o acesso à saúde pública. Participaram a pneumologista Margareth Dalcolmo e a cientista Natalia Pasternak.

A pneumologista disse que a produção de duas vacinas tem avançado no Brasil, uma no Instituto Butantã e outra na Fiocruz. Segundo a médica, elas devem ficar prontas apenas em 2021. A previsão é que elas sejam incorporadas ao calendário do SUS.

“Na Fiocruz, já começamos a produção. A vacina não é pra 2020 e nem para essa onda que estamos vivendo. Na melhor das hipóteses, é para 2021. Uma vez que o protocolo seja feito, a Anvisa vai fazer um registro e aí a vacina será incorporada ao SUS. O objetivo não é ter lucro, ela tem um caráter humanitário”, disse.

Onde o Brasil precisa investir

Segundo as especialistas, ainda não é possível prever quando a curva de casos e mortes no país vai começar a cair. Mas para que isso ocorra, é preciso direcionar o investimento para o interior dos estados, os bairros periféricos e para o tratamento de casos leves e moderados da doença.

“Foi feito um enorme investimento em leitos, hospitais de campanha. O que importa é saber se esse investimento feito será incorporado de maneira correta para atender nossa população. É possível que parte disso seja enviada para o interior, para onde a pandemia está se disseminando agora. O nosso grande desafio é a interiorização da doença”, disse Dalcolmo.

Para a médica, o investimento precisa ser aproveitado também para atender pessoas em bairros periféricos, onde a taxa de infecção é mais alta do que a média. “Algumas pessoas não têm como ficar nas suas casas com conforto, que precisam de auxílio para oxigenação, controle de insulina ou hipertensão. É preciso dar atenção a elas. Isso é tratar a Covid-19 de maneira adequada.”

Pasternak concorda e diz, ainda, que é preciso olhar para os casos menos graves da doença, que, se não tratados corretamente, podem aumentar a circulação do vírus. “Isolar melhor os casos leves e moderados também é uma maneira de controlar a doença.”

Segundo as especialistas, ainda não há sinal de queda na curva de casos e mortes no Brasil e nem previsão de quando isso pode ocorrer.

“Algumas tendências preocupam bastante. Mesmo cidades que fizeram platô, como São Paulo, não estão descendo. A não ser em regiões muito particulares, não vemos queda no Brasil. Para ver essa queda, vamos precisar implementar medidas mais efetivas. A gente está reabrindo aqui sem nunca ter implementado medidas efetivas e sem observar queda significativa nos casos. Então não tem previsão de quando isso vai acabar e de quando teremos pico”, explicou a cientista.

Os brasileiros ainda precisam seguir as medidas de proteção, como uso de máscara e distanciamento, segundo Pasternak. O relaxamento só vai ser possível quando houver diminuição drástica no número de casos e mortes.

Reinfecção e sequelas da doença

Não há evidências consistentes de que uma pessoa possa se reinfectar com o vírus, disseram as convidadas.

“Quem testou positivo e se recuperou provavelmente está protegido de uma segunda infecção. Até agora não estamos vendo casos recorrentes. Têm alguns registros de casos isolados, mas não é algo com frequência”, explicou a cientista. Mas isso não significa que quem se infectou uma vez pode abrir mão das medidas de segurança, lembrou.

Mas há risco de sequelas, segundo Dalcolmo. “Não há dúvida de que há sequelas, mas isso não está mensurado. Pessoas que tiveram pneumonias muito graves, que ficaram entubadas, possivelmente terão alguma consequência pulmonar. Não sabemos responder se serão da ordem de uma fibrose pulmonar ou se será uma diminuição de caráter obstrutivo no pulmão”, explicou.

Segundo a médica, também evidência de sequelas vasculares, uma vez que a doença pode levar a tromboses ou necroses, e também neurológicas “Há vários trabalhos mostrando efeitos leves e graves, com pacientes que evoluem com AVCs. Mas não temos tempo histórico suficiente para ter pessoas analisadas”, disse.

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